sexta-feira, 12 de novembro de 2010

primeiras impressões Paraguai (nem tão primeiras)




Sou invadido por um sentimento muito paradoxal, quando venho ao Paraguai. Gosto muito da cultura cosmopolita, da sofisticação, do requinte, e o Paraguai é um país em que raramente estas características ocorrem. A capital Assunção pode até oferecer uma centelha disso, mas nada se compara ao mundo moderno das capitais europeias ou mesmo da grande São Paulo. E, então, penso se consigo ficar longe dessa cultura, com a qual fui me acostumando ao longo dos últimos anos.
Por outro lado, no Paraguai, tenho certeza de que posso encontrar das pessoas mais amáveis e doces por aí nesse mundo.
Desse jeito, vejo minha cultura posta em xeque. Sinto-me como o filho interiorano que cresceu e se mandou para a capital. Ao mesmo tempo que me dá vontade de ir embora viver a cidade grande e mergulhar a fundo no ambiente jovem da universidade brasileira, tenho também a imensa vontade de permanecer mais tempo, sentir todo o carinho que os paraguaios dispendem a mim.
Penso se já não é hora de retribuir à sociedade o conhecimento que dura e afavelmente adquiri. Na verdade, vejo esta oportunidade de ser leitor como um momento de transição entre minha vida de aluno e a de professor. Sem um limite muito estanque, sempre na sombra da ambiguidade: ora pendendo para um lado, ora para outro.
Não consigo ter um olhar muito exotizante do Paraguai, porque parte da minha identidade pertence a este país também, assim, acabo não vendo muitas das diferenças culturais que um brasileiro "puro" talvez veria.
Talvez o calor exacerbado é um dos primeiros fatores que chamariam a atenção do paulistano, ainda que ele viesse de Ribeirão Preto. No dia em que cheguei, fazia um calor que não sentia há muito tempo.

O segundo ponto são os pernilongos. É preciso dormir de mosqueteiro, senão você é engolido pelos bichinhos. Na minha primeira noite, esqueci do repelente e do mosqueteiro, e pra piorar, deixei a janela do
meu quarto aberta. Resultado: amanhaci inchado pelas picadas. Mas essa não é a primeira vez que me acontece e nem me incomoda tanto o fato. Minha mãe conta que quando eu era bebê, uma vez movi o véu do berço e fui devorado pelos mosquitos.
Vacinado de pernilongos já estou!
O terceiro ponto chamativo, e este devo confessar que também estranho muito, é a paisagem do país. O terreno é completamente plano e a vegetação, se não estou enganado, parece ser Mata Atlântica. No meio dela, não há uma paisagem urbana. Com exceção de algumas cidades, o Paraguai é extremamente rural. Diria até que as cidades têm um aspecto peculiar de sujeira. Há muita poeira. E muitos municípios seque são asfaltados. Falta infraestrutura básica. Não há saneamento. Este é o cenário oposto daquele que eu gosto, conforme descrevia no princípio deste relato.
As estradas são bem conservadas, no entanto. O país é cortado por grandes rodovias, que, por sinal, comunicam muito bem todas as regiões. Quase não há pedágios. E em algumas rodovias quase não há movimento também.
Quando o ônibus pára em algum ponto, logo ele é abarratado por vendedores ambulantes, quer no interior do veículo quer do lado de fora dele. Se você olhar pelo vidro, seguramente vai ser alvo de algum vendedor afoito por fazer você comprar. O que ele vendem são geralmente alimentos. Comida típica paraguaia: empanada, chipa. Também vendem biscoitos e bolachas, refrigerantes, água e chicletes. Está tudo à mão, por um preço muito baixo.
A população é bastante pobre. E nisso também há muita diferença com o Brasil. Diferença na quantidade. Parece que todo mundo é pedinte, parece que todo mundo é vendedor de semáforo.
Vejo muita gente usando roupa velha e rasgada. E isso não é vergonha por aqui, é praticamente a regra. Use sua roupa até ela acabar.

E então tenho que falar um pouco do cenário urbano: as cidades parecem que pararam no tempo. O design das lojas, as fachadas e a arquitetura parecem ser bem antigas. Em geral, os letreiros das lojas são feitos de latão, o que confere um ar de ferrugem aos lugares. Os paraguaios não economizam nos anúncios, a poluição visual é tremenda. É o lado feio e sem glamour do capitalismo. À mercê do sistema e com a barriga vazia, a solução é vender qualquer coisa em qualquer lugar.



Penso seriamente como um brasileiro reageria nma situação dessa. A biagem da capital até Concepción, município localizado no centro norte do país, levou 10 horas. O ônibus que tomei estava num estado extremamente precário. Prefiro não reclamar e nem descrever. Só devo mencionar um episódio da viagem que serve para reforçar o caráter amistoso dos paraguaios. Lá pelas tantas, o pneu do veículo explodiu, no meio de uma rodovia deserta. Mas em menos de meia hora estava tudo arrumado, graças à ajuda das raras conduções que por ali passavam.


Até agora tenho falado do Paraguaidos pobres, ou seja, do Paraguai de mais de 80% da população. Mas há um outro Paraguai muito diferente: o Paraguai dos ricos. Tive contato com esta gente poucas vezes. Venho de uma família de artistas e ser artista é saber se relacionar, é saber ser filho de mecenas. Na minha primeira noite em Concepción entrei mais uma vez em contato com esta trupe. Participei de uma cerimômia de gala na qual esteve presente o governador do Estado, o Reitor da Universidade, o Embaixador do Brasil, o Cônsul paraguaio no Peru, o vice Cônsul e uma delegação imensa composta de esposas "ingênuas" (para não dizer alienadas) e madames.
Enfim pude saber qual seria minha missão em Concepción: ajudar a fundar um curso de formação em língua portuguesa.
A Universidade Nacional de Concepción é composta de quatro a cinco casinhas, muito longe de ser qualquer das universidades brasileiras. A história do lugar é muito interessante (ela existe há menos de quatro anos). O terreno era antigo território dos militares!



Fiquei muito contente em saber que havia sido convocado para participar da construção do ambiente.
Toda aquela cerimônia era para marcar a assinatura de um acordo de cooperação entre o governo brasileiro e o estado de Concepción, mas no sentido de que o Brasil forneceria ajuda ao país vizinho. Minha presença era o símbolo da concretização daquele acordo. Cheguei a ter o nome mencionado várias vezes pelas autoridades e fui convocado a discursar para a plateia (fui pego de surpresa). No fundo, sinto muito nojinho dessa postura paternalista do Brasil. Chega a soar como algo de hipocrisia, que não chega a remediar os estragos da Guerra da Tríplice Aliança. Por outro lado, sinto-me encorajado tanto porque estarei participando de um capítulo importante no desenvolvivmento cultural e social desse lugar como também porque senti de perto o calor humano das pessoas ávidas em aprender e em mudar a situação em que se encontram.
Creio que meu sentimento paradoxal aos poucos irá se amenizando, porque o embate das correntes é bem propenso para um lado. já que se trata de uma luta material contra uma luta humana. O grande problema é que não tenho toda essa maturidade em abrir mão de uma cultura do consumo e da vaidade.
Estou no Paraguai também para me conhecer mais. A falta de amigos e da família, com certeza, vai me proporcionar momentos muito interessantes de reflexão. Acredito que estarei muito mais enfocado nos meus objetivos! Esperemos e veremos!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Discurso de formatura Lingüística (2004-2007)

Revendo e-mails antigos, encontrei entre eles o discurso de formatura escrito por minha amiga Denise. A turma em questão era a minha, a de Lingüística, na época em que "linguística" ainda tinha trema. Espero que resulte interessante essa saborosa mensagem.





Discurso de Formatura – Turma de Lingüística
18/01/2008

Denise Pozzani de Freitas Barbosa

Agradecimento

Boa noite à mesa, aos pais e colegas. Gostaria, primeiramente, de agradecer a meus companheiros de turma, por terem me escolhido para representá-los nesta cerimônia.




Quando, em 2004, iniciou-se esta turma do curso de Lingüística, não era possível imaginar como estaríamos hoje. Afinal, além se sermos estranhos uns aos outros àquela época, nosso curso não nos parecia nada convencional (fato, que, talvez, tenha sido o primeiro de muitos que nos uniram). É verdade também que éramos muito diferentes, pessoas de diferentes idades e lugares, um pouco ou nada experientes na vida acadêmica, experimentando os sabores de novidade que esta universidade nos oferecia de mão cheia.

As primeiras impressões dos colegas hoje parecem remotas; possivelmente, a maioria delas até tenha sido descartada da memória, substituída por tantos outros acontecimentos mais marcantes que nos transformaram neste grupo de amigos que somos hoje, sem implicâncias ou disputas, agradáveis, solidários, e muito bem humorados.

Esses quatros anos se passaram, e foram tantos textos para ler (alguns dos quais se assemelhavam a mensagens cifradas para nós), tantas aulas, trabalhos a entregar, tardes na arcádia ao redor de alguma discussão altamente relevante, aulas de línguas exóticas que alguns se sentiram desafiados a aprender, enfim, tantas atividades em comum (penosas, ou divertidas), que fazer parte desta turma tornou-se uma necessidade diária, mais do que uma parte da rotina.

Longe das obrigações ordinárias, como esquecer as inúmeras “piadinhas de lingüista”, ou aquela camiseta do Chomsky, carinhosamente planejada? Os almoços no IMECC ou no bandejão? (muitos embalados por palestras sobre a interessante mistura do guarani com o espanhol, uma língua chamada de “Jopará”).

Além disso, é forçoso lembrar como muitos de nós, longe ou perto de casa, pudemos sempre contar com os amigos. Afinal, quantas vezes precisamos de uma companhia, um favor, uma carona, um lugar para dormir em Campinas, ou mesmo um empréstimo de livro, quando éramos punidos pelas estranhas multas incrementais da biblioteca.

         E como não falar dos nossos queridos professores, especialmente aqueles que realmente fizeram com que nos sentíssemos especiais. Houve os que nos encantaram com seu conhecimento e dedicação extremosa às ciências da linguagem, os que desenvolveram nosso senso crítico, apesar da nossa teimosia, os que nos orientaram com dedicação e uma boa dose de paciência na iniciação científica, e, ainda, aqueles que somente com sua simplicidade e espontaneidade ganharam nossa admiração.

Durante esses quatro anos, também é visível como desenvolvemos preferências diferentes por áreas e teorias e criamos vínculos e admirações diversas... enfim, amadurecemos, como era de se esperar. Mas, como estreantes que somos, digamos que, até aqui, conseguimos pelo menos atenuar nossa ignorância.

Daqui para a frente, o que nos espera é um caminho individual. Chegado o fim, o que vamos fazer, o que seremos, se vamos ser “profissionais de destaque”, ainda não pensamos realmente sobre isso... Infelizmente, e digo isso especialmente aos pais, descobrir uma língua, um fonema ainda não registrado ou um sistema morfológico complexo não é como descobrir petróleo.

Deixemos, contudo, em suspense por um tempo esta reflexão, não pensemos sobre isso hoje, pois, no final, saberemos o que fazer se encararmos o fim deste curso também como o começo de outras possibilidades. Mas não nos esqueçamos como foi prazeroso pertencer a este grupo e a este instituto por um tempo.

Hoje a certeza, o conforto que esta turma pode manifestar a todos que aqui estão é que chegamos ao fim do curso, e por um motivo certo: estudamos muito (!), nos apaixonamos pela área, e certamente estamos imensamente orgulhosos por receber hoje o título de lingüistas, que somos. 

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Regressar

Uma vez eu disse que minha vida paralela no Brasil havia morrido. Pois bem, retornei de viagem e quis ressucitá-la: ledo engano.
Minha vida antiga campineira está mais morta do que nunca. O que mais me incomoda é que ela já fede a podridão. As figuras do passado já se enrugaram, os amigos antigos já reencarnaram. A casa se decompôs no meio de tanta poeira.
Sinto que meu coração está querendo enferrujar-se. É muito difícil não se deixar abater diante da imagem da destruição. Brevemente alçarei asas de novo. No entanto é sufocante notar que o palco de tantos momentos de alegria está completamente em ruínas.
Será que consigo aproveitar algo dessa vida pré-viagem? Ou será que se trata de uma oportunidade para começar tudo outra vez?
Acho que só o estado de decomposição ficou. Nada se aproveita, só os antigos vícios. Só a má fama se mantém. Não há como edificar vida nova num nicho tão repleto de negro, lama e solidão.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Memorial

Ando sem inspiração e com muita preguiça de escritura.
Para não deixar o blog abandonado, vou postar um texto de uma amiga.
É um memorial... Nele minha amiga relata como foi passar num vestibular e estudar na universidade pública, depois de ter sido uma aluna, no Ensino Médio, vítima do ensino básico público e brasileiro.

Com vocês:

Memorial - Ensino Fundamental e Médio


Minha vida escolar iniciou em 1990 quando ingressei na pré-escola, na cidade de Hortolândia. O mais interessante sobre a minha pré-escola é que as aulas não eram ministradas em nenhuma instituição de ensino, nem pública, nem particular. Era na própria casa da professora. Eu não sei dizer ao certo se ela cobrava alguma coisa ou não, mas tenho convicção que não, pois imagino que minha mãe na época não teria condições de pagar para eu estudar.

Lembro-me também das outras crianças, que eram tão necessitadas quanto eu, por isso acredito que eu não era um tipo de bolsista ou algo assim. Penso que essa professora era uma espécie de voluntária.

A sala de aula era composta de duas mesas compridas, a lousa em uma das paredes e nas outras os desenhos e trabalhinhos que nós fazíamos.

Quando entrei na pré-escola, eu já sabia ler e escrever um pouco porque meus irmãos me ensinavam, e na pré-escola fui de fato alfabetizada. A professora utilizava a mesma cartilha que usei novamente na primeira série, a cartilha do Tito, porém a cor do cabelo do Tito mudou de um ano a outro de preto para loiro.

Em 1991 iniciei a primeira série na E.E.P.G. “Maristela Carolina Melin”, já alfabetizada. As primeiras e segundas séries eram chamadas de “CB’s” e a letra correspondente à turma tinha uma relação com a qualidade da mesma, por exemplo: “CBA” melhor/mais forte que “CBB”, que é melhor/mais forte que “CBC”. Tanto na primeira quanto na segunda série.

Não me recordo ao certo se usei a cartilha só na primeira série ou na segunda também. Mas lembro que só na terceira série é que ganhei os livros de Ciências e Estudos Sociais (apesar de praticamente não usá-los). Foi a partir da terceira série também que pude começar a escrever com caneta no caderno. Até então só lápis era permitido.

Até a quarta série a turma tinha uma única professora, inclusive para as aulas de Educação Física, que para nós nada mais era do que um recreio bem grande.

Nesse período (de 1.ª a 4.ª série) praticamente não tinha lição de casa. Quando tinha era pouca e dava pra fazer na escola mesmo, ao terminar a lição dada da sala.

Na quinta série as coisas mudaram um pouco por causa do número de professores e das matérias novas, História, Geografia, Ciências. Essas matérias eram praticamente desconhecidas para nós. E até mesmo Português e Matemática passou a ser bem diferente. O que continuava mais ou menos igual eram as aulas de Educação Artística. A diferença era que agora nós fazíamos coisas mais elaboradas, aprendíamos sobre as cores... Porque até então tinham sido quatro anos de muito recorte e colagem, desenhos, pinturas com lápis de cor e giz de cera. Eu acho que só na quarta é que aprendemos a tabuada e a dividir.

A única coisa que não mudara nada era a aula de Educação Física, que exceto pelo novo professor, para nós continuava a ser um recreio bem grande.

Na sétima série passei a não freqüentar mais as aulas de Educação Física porque comecei a trabalhar. Trabalhava de dia e estudava à noite. Hoje eu mesmo me surpreendo só de imaginar que na sétima série, com menos de 13 anos, eu já estudava a noite. Hoje eu acredito que nem exista mais escola que ofereça turmas de sétima série no noturno.

Na quinta e na sexta série me lembro de ter de vez em quando trabalhos para fazer em casa que nós tirávamos dos próprios livros didáticos, e de ter participado de uma mini feira de ciências.

A partir da sétima série eu nunca mais fiz nenhum trabalho ou atividade extra-classe. Nem mesmo no ano seguinte, na oitava série, quando no segundo bimestre, mudei de escola e voltei a estudar à tarde até o fim daquele ano.

Um detalhe importante: até então, desde a primeira série, eu tinha estudado na mesma escola e tive praticamente os mesmos professores de 5.ª ao começo da 8.ª série. Às vezes um mesmo professor dava aulas de matérias completamente diferentes de uma ano para outro. Por exemplo, a minha professora de Ciências na quinta se tornou minha professora de Português na sexta. O professor de Matemática foi também de Ciências e Educação Física (em séries diferentes). Ou ainda a mesma professora ministrando duas disciplinas no mesmo ano, como Português e Inglês.

Em 1998, no início da oitava série, fui morar por uns meses na Vila União em Campinas. Passei a estudar em um CAIC, era o CAIC “Prof.º Zeferino Vaz”. Se eu não me engano os CAIC’s são administrados pelo município, apesar de existirem em várias cidades.

Apesar de estranhar os professores, eu gostava da escola nova pois a julgava melhor do que a antiga, porque tinha não só uma estrutura melhor (quadras diferentes, uma delas coberta, biblioteca, sala de computador), como as aulas tinham um conteúdo mais aprofundado. Lembro de ter tido uma queda nas notas e de ter tirado minha primeira nota vermelha.

A Educação Física também era bem diferente, nós praticávamos cada bimestre um esporte, e uma coisa que me marcou muito foi a realização de uma gincana esportiva feita com a escola toda dividida em equipes, e cada equipe continha participantes de todas as séries (de 5.ª a 8.ª). A minha equipe ficou em último lugar, mas me orgulho em citar que ganhamos no futebol, já que eu era goleira do time!

Na verdade eu preferia ser goleira porque não tinha que correr muito e em geral eu tinha ido mal durante o ano todo em Educação Física. Para mim, praticar algum esporte era algo absolutamente novo, e que eu não consegui me adaptar muito bem.


No primeiro colegial, em 1999, voltei para Hortolândia (para a mesma casa em que havia morado desde a pré-escola, e na qual moro até hoje) para uma escola diferente, mas com a mesma “turma”, porque o “Maristela” era uma escola de 1.ª a 8.ª e por isso era comum os alunos que saíam de lá irem para o “Everest”, como era conhecida a E.E. “Prof.ª Hedy Madalena Bocchi”, já sem o “PSG”.

Essa escola nova (com rostos já conhecidos) era considerada uma das melhores escolas públicas de Hortolândia em termos de estrutura. Era bem grande (os primeiros anos iam até a turma I e os terceiros, até H), tinha biblioteca e sala de computadores, porém ficavam trancados (inclusive a biblioteca).

Nos três anos em que estudei lá, só entrei na sala de computador uma vez no terceiro ano para fazer uma reunião de formatura.

Só era permitido pegar na biblioteca o livro que a professora de Português indicasse (quando ela indicava!) e era sempre a inspetora que pegava. Nós não tínhamos acesso às prateleiras.

Nenhum conteúdo, de nenhuma matéria, era bem explorado. Eram no máximo apresentados, e o conteúdo das provas era sempre alguma coisa dada para decorar poucos dias antes. Nas exatas as fórmulas eram passadas sem grandes explicações, no fim, Física, Química e Matemática era a mesma coisa: equação de primeiro grau. Era só decorar a fórmula (quando já não vinha na própria prova) e achar o “x”, nunca havia duas incógnitas no mesmo “problema”.

Não tínhamos livros didáticos.

Durante os três anos não fiz sequer uma redação e li dois livros, um deles a meu pedido.

No segundo ano fiquei pela primeira vez de recuperação, mas não era a recuperação como havia na época do ensino fundamental. Era a famosa recuperação de janeiro. A matéria na qual eu teria reprovado era História (reprovada por falta, porque por nota era praticamente impossível reprovar), mas passei janeiro inteiro relembrando a época do ensino básico, fazendo recorte e colagem e montando painéis sobre assuntos diversos.

Os professores, de maneira geral, não tinham comprometimento nenhum com as aulas, com os conteúdos, muito menos com os alunos. No primeiro colegial tive 5 professores de Física, e era comum a troca de professores na disciplina durante o ano letivo.

Sem contar os professores substitutos que passaram a ser figuras de presença constante e que eram na verdade “babás” e não passavam conteúdo algum.

O tema “ensino superior” nunca fora mencionado, a não ser em uma ocasião em que a Universidade Paulista – UNIP, passou distribuindo inscrições gratuitas para seu vestibular. Teve até mesmo um caso de uma colega de turma que preencheu a tal inscrição (na própria escola), mas não foi fazer a prova, e mesmo assim recebeu uma cartinha parabenizando-a por ter sido aprovada no vestibular.

Eu não me interessei em preencher, já que não teria condições financeiras para pagar a faculdade.

Quando “terminei meus estudos” (essa era a idéia geral de quem se formava no ensino médio), estava na verdade triste porque eu sonhava eu fazer uma faculdade, em “ser alguém na vida”. Porém o meu salário era bem distante do necessário para se pagar uma faculdade.

Nessa época eu trabalhava em uma escola de informática próxima a um cursinho pré-vestibular (que na época eu não sabia ao certo do que se tratava). Certo dia, ao passar em frente como de costume, notei uma faixa que dizia “inscrições abertas”. Como sempre fui interessada em fazer cursos (na esperança de ter um emprego melhor), entrei para perguntar do que se tratava aquele curso, e lá a recepcionista me explicou que se eu fizesse aquele curso e me dedicasse bastante eu poderia entrar em uma universidade pública e não teria que pagar para fazer faculdade. Foi nesse dia que descobri que a Unicamp não era um Hospital.

Consegui bolsa no cursinho (era um cursinho alternativo) e comecei a estudar. Lá eu aprendi todas as coisas que eu nunca tinha ouvido falar no ensino médio. No meu caso (e acredito que no de todos que estudaram em escola pública) o cursinho estava bem longe de ser só uma revisão. Lá eu vi pela primeira vez conteúdos simples como "velocidade é igual a delta esse sobre delta te".

No primeiro ano de cursinho, além de aprender os conteúdos do ensino médio, aprendi também sobre as instituições e os cursos, o que me permitiu escolher não só um curso (diferente de administração!), mas a própria instituição.

Nesse ano eu passei apenas a primeira fase dos vestibulares da USP e da Unicamp, o que pra mim já foi uma grande vitória e motivo de muito orgulho para a minha família (que passou também a entender melhor essa diferença universidade pública/privada).

No ano seguinte cursei novamente o cursinho e consegui passar nas duas Universidades, porém na Unicamp fiquei em 20.º lugar na lista de espera o que não me deu esperanças de que iria ser chamada, já que o curso de Letras tinha apenas 30 vagas.

No entanto fui chamada ainda no primeiro dia de matrículas (1.ª chamada tarde), o que pra mim foi uma alegria muito grande, e a sensação que eu tive foi a de que o fim tinha chegado, meu objetivo tinha sido conquistado.

Hoje eu sei que na verdade aquele era só início de uma longa estrada.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ansiedades

O texto que aqui será publicado é obra do meu grande amigo André Leonardo. É um texto já velho, publicado, em 2006, no blog dele (que por sinal, recomendo. Eis o link: Fala alguma coisa).
Numa brincadeira de amigos, fiz a minha versão para o espanhol.
Reproduzo-o catarsticamente nas duas línguas, para os meus dois mundos. Com vocês...

Ansiedades

Breve estarei diante de todos os meus amores, aguardo ansiosamente para me reencontrar com eles. Agora mesmo, ouço suas vozes em minha mente, eles me chamam, me dizem, cada um a sua maneira peculiar, venha, venha, viveremos momentos felizes juntos, lado a lado. Nenhum me completa a existência da mesma maneira, por isso tenho vários, vários amores, que amo diferentemente. Ainda estou distante deles e penso, meu Deus, não haverá tempo para todos eles, há pouco eu disse a alguém, o tempo é aquele que temos, mas não posso chegar aos amores que "sobrarem" quando dos encontros e dizer isso a eles. Não está certo. O ideal seria eu ser vários, como vários eles são, para ter tempo para me alegrar ao lado de todos. Mas espere...eu já sou muitos por amar de modos tão diversos, sou um, único, com a característica de ser muitos. Se me quebrasse em muitos de fato, cada um deles seria menos que um, incompleto, querendo mais, os outros. Penso melhor, meus amores me entendem, se o tempo para algum ou alguns deles me faltar, quem mais sofre com isso sou eu mesmo, mas meus lindos amores me consolam, estando presentes a todo momento, aguardando pacientemente que minha hora para eles chegue. Então não está mal ser um, um para todos, e todos me tornam esse um.


Breve estarei diante de meus amores. Podem me ouvir? Não podem. Eu ouço vocês. Estou chegando!
 
***
 
Ansiedades
 
Pronto estaré delante todos mis amores, aguardo ansiosamente para que les reencuentre. Ahorita mismo, escucho sus voces en mi mente, ellos me llaman, me dicen, cada uno a su manera peculiar, venga, venga, vamos a vivir momentos felices juntos, lado a lado. Ninguno me completa la existencia de la misma manera, por eso tengo varios, varios amores, que amo diferentemente. Aún estoy distante de ellos y pienso, ¡Díos mío!, no voy a tener tiempo para todos ellos, hace rato conté a alguien, el tiempo es este que tenemos, pero, en los momentos de las citas, no puedo contarles eso a los amores que "restaren". No es cierto. Lo ideal sería que yo fuera varios, como varios ellos son, para que tenga tiempo en alegrarme al lado de todos. Pero espere… yo ya soy muchos por amar de modos tan diversos, soy uno, único, con la característica de que soy muchos. Si me rompiera en muchos de hecho, cada uno de ellos sería menos que uno, incompleto, queriendo más, los otros. Pienso mejor, mis amores me entienden, si el tiempo para alguno o algunos de ellos me falta, quien más sufre con todo eso soy yo, pero mis guapos amores me confortan, estando presentes a todo momento, aguardando pacientemente que mi momento para ellos se les antoje. Entonces no es mal que sea uno, un para todos, y todos me vuelven ese uno.


Pronto estaré delante mis amores. ¿Pueden escucharme? No pueden. Yo les escucho a ustedes. ¡Estoy llegando!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Luto

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O garoto que trombou com a velha


Outro dia, andando pela rua, parei demoradamente na esquina. Mas não tão demoradamente assim, só até que o sinal se abrisse. Esperava logo, enfim, continuar meu trajeto.


Distraído com as meninas de Velásquez, pus-me a observar as réplicas-bonecas de cera bem ali num café daquela plena esquina. Acabei por perder, assim, o rumo de minha espacialidade. O devaneio, no entanto, não tardou o bastante, porque muito violentamente fui desentranhado das minhas fantasias.

Enquanto as ancas das meninas me reportavam a costumes outros e a outra mentalidade, de súbito fui transportado à realidade da cultura espanhola de hoje.

Foi que, quando o sinal abriu, a multidão se alvoroçou. E lenta, mas rapidamente, dei de frente com uma senhora: foi um típico esbarrão.

Às voltas com meu mundo, caí de imediato no mundo dela.

Lembrei que estava em Madri, numa Madri de todos os dias. Numa Madri de agora.

Nas grandes cidades as pessoas são sisudas. Todas saem vestidas de si mesmas e tudo que elas esperam é não ser tiradas dessa esfera.

Madri é muito curiosa nesse aspecto. As artimanhas das pessoas para que estejam, quando em público, sempre dentro delas mesmas são notórias. No metrô, sempre há um livro tirado das bolsas das senhoras como armadura. No parque, se dá o mesmo.

Divirto-me, quando um músico de rua, ao entrar no veículo, começa a executar sua obra e a espalhar o seu mundo para além das fronteiras dos das senhoritas e seus livros. É muito fácil conseguir a gorjeta: "pago-te para que me deixes". Sinto prazer com o desconforto espanhol.

O livro é o lugar da alienação e da falácia. Madri não lê, Madri lê no metrô, nada mais. A telenovela está ali novelada no papel: “A menina que se machucou apanhando uma rosa”, “A lua amarela de Augusta”, “Os queijos que o gato não comeu”, “Betânia já não chora” são mais ou menos os títulos preferidos para o embolhamento do pessoal.

Quando aquele sinal abriu e se deu os choques de dois mundo, percebi que os latinos somos muito diferentes em nossas reações. Mais que depressa tratei de me desculpar. Mas tirar um espanhol de seu mundo não é como tocar aquela flor que se fecha ao simples toque. O espanhol se abre e joga em cima de você todos os leões que eles têm guardados. Aliás, eles se fecham sim, mas como as plantas carnívoras, que se fecham e te engolem.

Para mim foi realmente violenta a reação de uma velha senhora, mais maquiada que o habitual, que não economizou “coños”, “gilipollas”, “joderes” e um bem grande “olha bem por onde anda”, implicitamente dizendo “senão olhares, mato-te”.

Longe de generalizações: também há latinos assim e nem todos os espanhóis padecem do mesmo estresse. Mas é que tomar uma atitude aqui é muito mais freqüente que tomar uma atitude lá.

Simplesmente resgatei minhas raízes guaranis e baixei o olhar envergonhadamente. As meninas de Velásquez ficaram ali mesmo, naquela esquina, com o episódio da velha rabugenta.

Bem feito, quem mandou se aventurar: lugar de índio é com Macunaíma.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Hoje é domingo

Domingo é dia de estar com aquela carinha! Sabe quando você vê a mulher sem maquiagem? Essa é a carinha que eu tenho aos domingos.


Por trás do rosto limpo, parece que há certa sujeira, no entanto. Os faróis exprimem o vazio e eis a carinha de domingo.

A festa da véspera acabou, os amigos foram embora. Comeu-se, bebeu-se, riu-se, tudo em demasia. Estou sozinho com o que restou: a minha carinha domingueira.

Mesmo que eu chupe um sorvete, ainda que eu vá ao parque, estarei carregando a mesma face de todos os domingos.

É que tiraram de mim o que de mais animal há e em troca me deram a culpa. E tudo isso, porque hoje é domingo. Aclamado o dia oficial do nada, fico, neste dia, diante do nada e de mim mesmo.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Consejo de Amigo / Conselho de amigo

Yo no quiero que mi apoyo sea un ingrediente relevante para que tomes decisiones. Hay decisiones que cada uno debe tomar por sí mismo y esta es una de esas ocasiones en las que solamente tú debes fijar una posición y ser consecuente con ella. Es por ello que te pido de la manera más amablemente posible que te tomes tu tiempo para resolver las cosas, pensando sólamente en tí mismo. Ánimo, Diego, que todo se va a resolver. Intenta despejar el camino para que puedas transitar lilbremente. Aprende de tus relaciones para que tus compañeros sentimentales no se conviertan en pesadas cargas, para que comprendas que las relaciones amorosas son estados transitorios de alegría, para que te percates de que las relaciones sentimentales no se pueden basar en mi absoluta dependencia: No existen los complementos perfectos. Vivir en pareja no puede significar que deje de vivir mi vida por temor a que el otro viva la suya. Estamos solos, nos acompañamos momentaneamente en la vida, a veces tenemos la fortuna de que las personas, que escogemos como compañeros de vida, permancen con nosotros hasta la muerte, pero, en otras ocasiones, son los fatídicos azares de la vida quienes nos separan de lo que más amamos. La vida es un continuo de soledades: Algunas veces las percibimos someramente, otras tantas, se avecina intempestivamente sobre nosotros. Esto no significa que no existan seres a quienes amamos y que nos aman. Están allí presente, ocupando un espacio privilegiado en nuestra memoria, indelebles en el tiempo y en el espacio, proporcionándole sentido a lo que hacemos y a lo que sentimos, alojándose en los recovecos del sentimiento y activándose con los más simples pensamientos. La felicidad no es eterna, es relativa y momentanea. ¿Cómo se construye? Lamento informarte que no tengo esa respuesta, pero sí te puedo asegurar que la felicidad no se puede construir sin que tenga claridad respecto a las cosas que quiero y que deseo. No se puede ser feliz con los otros, cuando no se es feliz con uno mismo.

Qué sea esta la oportunidad para fijar tus prioridades. Qué construyas tu futuro basado en tu bienestar y en tu felicidad.

Todo va a salir my bien. Ya lo verás.

No pienses en nadie más que en tí mismo.
Cuídate mucho.
*****

Não quero que meu apoio seja um ingrediente relevante para que vc tome decisões. Há decisões que cada um deve tomar por si só e esta é uma dessas ocasiões em que somente vc deve estabelecer uma posição e ser consequente com ela. É por isso que te peço, da maneira mais amável possível, que tome seu tempo para resolver as coisas, pensando somente em vc mesmo. Animo, Diego, que tudo se resolverá. Tente limpar o caminho para que vc possa transitar livremente. Aprenda das suas relações para que seu companheiro sentimental não se transforme em uma pesada carga, para que vc compreenda que as relações amorosas são estados transitórios de alegria, para que vc se previna de que as relações sentimentais não podem ser baseadas na sua pura dependência. Não existem os complementos perfeitos. Viver em casal não pode significar que vc deixe de viver sua vida por temor de que o outro viva a dele. Estamos sozinhos, nos acompanhamos momentaneamente na vida, às vezes, temos a fortuna de que as pessoas que escolhemos como companheiros de vida permaneçam com a gente até a morte, mas, em outras ocasiões, são os fatidicos azares da vida que nos separam dos que mais amamos. A vida é um continuum de solidões: algumas vezes as percebemos superficialmente, outras tantas, elas se aproximam intempestivamente da gente. Isto não quer dizer que não existam os seres a quem não amamos ou que não nos amam. Eles estão ali, presentes, ocupando um espaço privilegiado em nossa memória, indeléveis no tempo e no espaço, proporcionando sentido ao que fazemos e ao que sentimos, alojando-se em nosso mais íntimo sentimento e se ativando com o mais simples pensamento. A felicidade não é eterna, é relativa e momentânea. Como se constrói? Lamento informar que não tenho essa resposta, mas sim, posso te assegurar de que a felicidade não pode ser construída sem que se tenha a clareza com relação às coisas que vc quer e deseja. Não é possível ser feliz com os outros, quando não se é feliz consigo mesmo.


Que seja essa a oportunidade para estabelecer suas prioridades. Que vc construa seu futuro baseado no seu bem estar e na sua felicidade.
Tudo vai dar certo. Vc vai ver!
 
Não pense em ninguém mais que vc mesmo.
Cuide-se!

domingo, 28 de março de 2010

Primavera

Otra primavera que viene llegando y yo, aquí, en mi refugio, asilo que me propuse, contrariando a las estaciones de las parejas, de los enamoramientos y de los amores que están juntitos. Otra primavera que no será como las otras. Otra estación que no fue como otra. Que es singular con sus ingredientes nuevos, aunque únicos. Acrecida de fama, reconocimiento, popularidad conquistadas y faltante en vida humana que cede cariño. La búsqueda no para, el camino es siempre desviado, y las protuberancias me proponen la caída: yo me dejo caer y permito que la vaguedad me consuma.


No prometo nada, no me prometo nada, la vida, la vida joven, sobre todo, existe para que la disfrutemos, y además, ya no tengo créditos, mis promesas tienen el mismo valor que el hilo de una navaja ciega.

La primavera que debería recolectar las bonanzas tras el rigor hibernal, ahora coge las intemperies merecibles como la cigarra hedonista.

Sin embargo, aun existe una llama ofuscada dentro de algún lugar en mí que me hace conciente y me guía en esta casi total insanidad.

Me callo para que no sea una amenaza a la esencia de la primavera, me callo para que no hiera a los que creen en los sueños de esta estación florida, me callo porque no quiero salar a los ríos. Me callo porque es parte de mí la serenidad. Salgo de escena porque necesito ser una persona nueva, capaz de entender un poco de lo que es la primavera. Y ser capaz de sentir todos sus olores, admirar todos sus colores y sentir el amor evocado a partir de un simple beso. ¡Quiero enamorarme!

terça-feira, 23 de março de 2010

Agradecimentos

Hoje tenho o corpo debilitado, mas a mente muito lúcida. Exatamente por isso escolhi o dia de hoje para escrever os meus agradecimentos. Hoje tenho percepções aguçadas que talvez não teria em dias em que meu corpo se encontrasse em condições para dispersá-las. Também já estive na situação contrária: com o corpo bom, mas a mente insana. O que não resulta nada produtivo para períodos de criação.


Hoje, dia 22 de março de 2010, véspera de aniversário de minha terra natal, Viradouro, tenho o corpo cansado, cansado o suficiente para apenas poder digitar o que o coração manda:



Quando a gente observa o tempo como unidade concreta, acreditamos que as mudanças dentro desse período serão mínimas. Mínimas o bastante para encararmos uma aventura como a mudança de um país e, por conseqüência, de língua, de cultura e quase de religião. Acreditamos que as pessoas não têm livre-arbítrio e que o aqui se manterá intocável com o passo do tempo.

Outra coisa que aprendi com a viagem (sempre aprendo com viagens, mas volto a esquecer quando permaneço por muito tempo em um lugar): tudo muda. Não só as línguas e as sociedades mudam. As mentes e, sobretudo, os corações mudam.

Dos momentos em que o corpo andava bem e o coração não, posso tirar agora os melhores proveitos possíveis. As fraquezas são boas, a psicologia diz que o crescimento, às vezes, advém de um recuo. É a chamada curva em U. E agora me encontro recuperado de um longo processo de escalada, recém saído de um grande vale.

Nesses momentos em que quase deixei a tocha cair, percebi que muitos estavam ali apoiando, outros me erguendo. São estas pessoas que gostaria de agradecer.

Para me livrar de uma vez da parte burocrática (e antes que eu me esqueça), fica desde já registrado meus agradecimentos à Fundação Carolina, ao CSIC, à orientadora da Espanha e aos sujeitos de meu experimento. Sem estes anteparos a pesquisa seria inviável.

Quero aproveitar a oportunidade, a obtenção de um título de magíster, ocasião ritualística em minha carreira acadêmica, para agradecer as pessoas que agora e sempre estiveram por trás do meu processo de formação. Sem elas sim, quaisquer tentativas intelectuais de minha parte seriam impossíveis.

Nesse sentido, são duas as grandes mentes às quais rendo a minha mais honesta homenagem. À minha mãe, Maria Simone Jiquilin, lutadora feroz, que sempre me serviu de exemplo de como se recuperar nos momentos de desespero. A outra é a professora Eleonora, mentora intelectual, que me iluminou não só nas questões acadêmicas – as quais de longe me permitem vislumbrar os fenômenos de maneira racional – mas também no processo de formação do indivíduo – cidadão, engajado e corajoso. Coragem, aliás, é o caráter que une minha mãe e minha mestra.

A tocha, adquirida no berço materno e acesa na academia, prestou em muito para iluminar os novos prados por mim caminhado. Se antes tinha a convicção de que a atividade acadêmica praticada no Lafape, pouco conhecida no cenário internacional da Espanha, é robusta o suficiente para enfrentar os dados do português brasileiro, agora sei que ela se aplica aos dados diacrônicos do espanhol.

Quero também agradecer meu círculo mais íntimo de amigos, os quais pelejaram para que eu não deixasse a peteca cair. E quando ela caiu, foram eles que me fizeram recomeçar o novo jogo. À racionalidade de Denise, velha companheira para os momentos de elucubrações fonéticas. Ao bom-senso da Miriany, muito mais que amiga: família, irmã separada ao nascimento. Foi a My que me reconheceu desde o primeiro momento que nos cruzamos ainda na Unicamp. À Maísa, que com toda sua negritude, acho que ela preferiria pretitude, me mostrou, com muita raça, como se honra uma cor dentro de uma comunidade tão elitista. À Carolzinha, que sabe ponderar, e como..., mediante às situações da vida. Ao Tiago, que com toda sua casmurrice, ensinou-me a refletir para além do indivíduo. À Laura, simplesmente por ser meiga e não deixar-se enrijecer. Ao André, o Mano, por ajudar-me em minhas descobertas. À Kátia, pela disciplina. E por falar em disciplina, tenho que agradecer à minha treinadora Giane, por fazer encontrar-me com meu corpo. Ao meu xará, de nome e sobrenome, Di, por poesia exalada pelos poros. À Mariana, a Benê, pela serenidade. Ao Lucas, ao Brian, ao André Cilino por me fazerem mais forte. À tia Salete, por também ser mãe. Ao tio Sérgio, por também ser pai. À tia Celma, por ser amiga. Ao Tio Fábio, por ser empreendedor-conselheiro. Aos primos: Vítor, Ígor, Júlia e Pedro, por também serem irmãos. Aos amigos mais antigos: à Dani, pela vizinhança feliz; à Laís, pelos recreios famintos; à Aline, pela teatralidade. À Flávia, pela eloqüência. À Giselinha e à Michela, pela alegria de viver. À Dona Neide, por fazer despertar em mim o interesse pela linguagem. Ao vô Jiquilin, por ser um bon-vivant.

Aos meus irmãos: Dimas, por ser sábio; Daniel, por ser teimoso; Denis, por ser distante. Ao meu pai, à Emi e toda trupe paraguaia, por ensinar a tranqüilidade pachã.

Estes são meus amigos diacrônicos.

Aos amigos sincrônicos, agradeço a Beatriz, por emprestar-me o ombro nos momentos de morriña. Ao Albuquerque e ao Garrido, por serem tão solícitos. À María José, pela orientação e revisão dos meus rascunhos. Aos colegas de curso, por ensinar-me muito sobre latinidade. Em especial, tenho que render graças à Viviane, a Vi, primeiro por ser tão brasileira quanto eu, depois por toda a companhia e generosidade. À Lingyin, por proporcionar-me entretenimento, válvula de escape nesse mundo atroz. À Madeleine e à Soledad, por serem tão paraguaias quanto eu, por compartilhar um bom mate durante momentos reflexivos.

Agora é a hora do clichê: sei que as palavras são escassas para definir cada um e que neste momento não me lembrarei de muita coisa que já passou. Vocês citados sabem que são muito mais para mim do que essa meia dúzia de palavras articuladas. In memoriam: Mercedes, Clarice e Frida, guerreiras do sofrimento e da poesia. In memoriam: vó Zorinha, lembrança inamovível. Encerro, então, com uma canção da Negra, que neste instante, e para esta tese, significa muito (e também para retornar a esta língua que cerceia):



Cambia lo superficial

Cambia también lo profundo

Cambia el modo de pensar

Cambia todo en este mundo



Cambia el clima con los años

Cambia el pastor su rebaño

Y así como todo cambia

Que yo cambie no es extraño



Cambia el más fino brillante

De mano en mano su brillo

Cambia el nido el pajarillo

Cambia el sentir un amante



Cambia el rumbo el caminante

Aunque esto le cause daño

Y así como todo cambia

Que yo cambie no es extraño



Cambia todo cambia

Cambia todo cambia

Cambia todo cambia

Cambia todo cambia



Cambia el sol en su carrera

Cuando la noche subsiste

Cambia la planta y se viste

De verde en la primavera



Cambia el pelaje la fiera

Cambia el cabello el anciano

Y así como todo cambia

Que yo cambie no es extraño



Pero no cambia mi amor

Por mas lejo que me encuentre

Ni el recuerdo ni el dolor

De mi pueblo y de mi gente



Lo que cambió ayer

Tendrá que cambiar mañana

Así como cambio yo

En esta tierra lejana



Cambia todo cambia

Cambia todo cambia

Cambia todo cambia

Cambia todo cambia

Pero no cambia mi amor...

sexta-feira, 19 de março de 2010

Mariposa da palavra

Hoje amanheci mudo
Com uma gravata borboleta atada a garganta
Tem um bolo de palavra entalado
Na zona posterior do meu fictício
Tudo linear uniforme



Mariposa quer comê-lo
É alérgica a adjetivos, no entanto



Tudo misturado no tubo
Tubo misturando tudo
O bolo é bolha que sufoca
Mariposa quer comê-lo



Um bocado de alegria
Mariposa vai comer
Uma curva de camelo
Mariposa quer comê-lo



Está tudo linearmente miscuido
Miscuido uniformemente no tubo:
Camelo Alegre
Alegre cocova



Mariposa amanhece morta
Mariposa já comeu



Alergicamente tragou
A alma do amor

segunda-feira, 1 de março de 2010

Alucinações

É um tremor que vem de dentro do mais dentro, do mais interior, percorre os meus braços e desatina, rebenta na ponta dos meus dedos. É uma correnteza que tem mais que fluxo... e leva.... e não pergunta. É mais uma madrugada assistida, mais um vendaval que derruba as folhas velhas.


Viver provoca equívocos: falar induz a erros, não falar a mortes. E neste mar de possiblidades sou sempre o mal interpretado (e com isso já não me importo).

Não morro porque dói não ter a certeza de onde estará aquele gesto cativante, aquela voz de autoridade, aquela maneira de achar que tudo é verdade.

Contudo, não posso me deter.. o além tem mistério, já não tenho medo de me perguntar por ele, lá pode ter um bocado de coisa inimaginável, lá pode ser o terreno das bananas nanicas, lá pode apenas ser!

De novo, este tremor que me abala, um cisma entre o novo e o velho, mas dessa vez não posso mais ser guiado pelos cantos das sereias, terei de seguir as orientações de minha própria voz.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Matemática

Acabou?


Será que as fórmulas, as simples fórmulas dão por satisfeitas os emaranhosos questionamentos da existência?

Será que está no simples, o complexo? O complexo contém o simples? Será que há arestas que se cruzam, algorítimos repetidos??? Má temática esse tautologismo todo!

Sim, é simples, é automático... Se isto, entao aquilo... efeito, conseqüência.. delinquência...

E que seja decepado o que foge das fórmulas, o que transgride o simplismo... o que reflete, o que sente, o que divisa um futuro incerto...

Acabou?

Deveria acabar, o que ainda resta?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Poema I

Não preciso dizer nada
nao preciso escrever nada
nada preciso fotografar



Está tudo dito, narrado
e descoberto diante de qualquer olho



Conformo-me apenas em ser leitor desse mundo
e se de repente tenho algum insight
é porque antes a ignorância me dominava



E prefiro viver assim
dominando minhas ignorâncias
e enterrando-me nesse mundo de lembranças

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Ninguém

Deveras sandice posta em loucura
um roto lampejo: amor descarnado
e cerne da busca que se me cura.
Quiçá elo, primor....perdido ao mau estado.

Perdi sem invento a fé, apoquentado
logrando soturno assaz amargura,
até que fenece, cessa em azado.
Encontro, debalde, finda ternura.

Fremente desfecho, quero sorrir,
atroz desconsolo, passo ao além,
presente, oh insano, cheiro a porvir.

Revi taciturno, atado também
a lida, na fresta, espreita a seguir
cantei tom singelo se amo a ninguém.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Buscando motivos

Uma vez um garoto, cansado que estava, sentou num desses morro com gramado viçoso. Queria num fazer nada, só tirar o sapato, sentar um poco, sei la, era só sentar mesmo , sem motivo. Na verdade, esse era um habito do garoto. Quando a vida pesava, ele ia pr’aí, assubiava uma canção que fazia ele lembrar o passado e acabava sentando. É, só sentar mesmo, sem motivo. Sozinho tinha que ser, senão num tinha graça não. E a gente sempre perguntava: ondé que ta esse garoto? Porque, de repente ele não tava mais. Mas, ele tava la no morro de gramado viçoso, sem motivo, só sentado mesmo.


Era bonito de ver o garoto ali que nem um desses monumento importante das praça. Só que era mais melhor os dia que ventava, a gente pudia perceber nos zoim dele a alegria. As folha que ficava no chão, as folha seca que caia das arve começava a levantar e ele seguia uma por uma com a vista, os redimunho até imbaraçava um poco. Mas era anssim que era feliz. Sentado sozinho, só sentado mesmo, observando o vento.

Num dia o vento trouxe uma sacolinha branca, dessas de fera, então foi só contentamento. O garoto saiu do seu normal, parecia um daqueles que fica na frente da orquestra, um maestro. Comandava a sacolinha, e nois pudia entende os pensamento da cabeça dele. Parecia uma dança, só que num era que nem essas dança quarqué uma não, mais bunito que balé. Parecia mais o menos um furacão, a sacolinha flutuava até lá em cima, pertim das nuvi, pertim do azul do céu, bem la do lado de São Pedro, de Nossa Senhora. Daí por alguns tempo o garoto isquicia da sacolinha e biservava só o azul mesmo, como que o céu é lindo, gente! Depois ele voltava, porque a sacolinha começava a cair, devagarim, bem de lento. Ela ia cai normalmente, incostá no chão se não fosse otra sacolinha, um saco preto. O garoto, num entendeu direito, mas o saco e a sacolinha comecaru a brincar nas auturas e o garoto num consiguia mais comandar seu brinquedim. A sacolinha tinha que continuar passiando com o vento e não ficar se metendo com um saco, eita! Duas coisa igual num da certo. Vento se inrosca com sacolinha e saco se inrosca com otro vento.

O saco levou pra longe do garoto a sacolinha, mostrô pra sua nova amiga otros lugar, otras casa, otros gramado, otros garoto. E a sacolinha não tocou o chão como todas as vez que o garoto custumava ver.

Só que um dia deu um vento tão forte, mais forte que vendaval mesmo. E separo o saco da sacolinha. A amizade que agora já tinha se transformado em paqueração disbrocho. De vez em quando dava uma brisinha leve e trazia o saco bem perto da sacolinha, mas bem dipois vinha um ventão e separava os dois.

A sacolinha começo a isquece o saco, fica com raiva do saco, pega ódio mesmo! E parô de tentar encotra ele dinovo.

Veio o vento custumero, veio o garoto costumero. A sacolinha subiu, e começo a cair bem devagarim e toco o chão traveis, mas o garoto percebeu alguma coisa de diferente, a sacolinha num tinha só caído. Num sei direito, mas o garoto, que só se sentava mesmo, sem motivo. Levantô, ponhô o sapato e saiu do morro com muitos mutivos pra enfrentar sua vida.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

La ignorancia (Kundera, 2000)

Um dia, padecendo de saudade em Madrid, Madeleine, uma boa amiga paraguaia, fez-me chegar algumas especulações sobre como algumas línguas européias verbalizam esse sentimento. Eis que chegamos ao livro "La ignorancia", de Kundera (2000), do qual apresento a excelente resenha feita pela amiga meio-conterrânea. Deixo também o endereço do blog de Made: http://melancoholia.wordpress.com/

El eje central de esta breve novela es la nostalgia, pero no cualquier nostalgia sino la de aquella que siente el que se ve forzado a emigrar por razones políticas u otras. La nostalgia por los años que han pasado y la confrontación del periodo vivido fuera con el periodo de la vida de las personas que han quedado en la patria. Confrontación de lo que es, lo que fue y lo que pudiese haber sido en otras circunstancias.Dentro de la reflexión filosófica acostumbrada en los libros que he leído de Kundera, la comparación de esa añoranza de los personajes con la nostalgia de Ulises y su retorno a casa, así como el análisis lingüístico del término en varios idiomas es lo que más me ha cautivado de este librito mucho muy recomendable.Sinopsis del la edicion:
Una mujer y un hombre se encuentran por casualidad durante su viaje de regreso al pais natal del que emigraron hace veinte anos. ¿Podran reemprender una extraña historia de amor, apenas iniciada entonces en su tierra? El caso es que, tras tan larga ausencia, sus recuerdos no se parecen. Porque nuestra memoria, la pobre, ¿que puede hacer? ¿Solo es capaz de retener del pasado una miserable pequena parcela sin que nadie sepa por que precisamente esa y no otra? Vivimos sumidos en un inmenso olvido, y no queremos saberlo. Solo aquellos que, como Ulises, vuelven despues de veinte anos a su Ctaca natal pueden ver de cerca, atonitos y deslumbrados, a la diosa de la ignorancia.

Recortes:

[…]En griego, «regreso» se dice nostos. Algos significa «sufrimiento». La nostalgia es, pues, el sufrimiento causado por el deseo incumplido de regresar. La mayoría de los europeos puede emplear para esta noción fundamental una palabra de origen griego (nostalgia) y, además, otras palabras con raíces en la lengua nacional: en español decimos «añoranza»; en portugués, saudade. En cada lengua estas palabras poseen un matiz semántico distinto. Con frecuencia tan sólo significan la tristeza causada por la imposibilidad de regresar a la propia tierra. Morriña del terruño. Morriña del hogar. En inglés sería homesickness, o en alemán Heimweh, o en holandés heimwee. Pero es una reducción espacial de esta gran noción. El islandés, una de las lenguas europeas más antiguas, distingue claramente dos términos: söknudur: nostalgia en su sentido general; y heimfra: morriña del terruño. Los checos, al lado de la palabra «nostalgia» tomada del griego, tienen para la misma función su propio sustantivo: stesk, y su propio verbo; una de las frases de amor checas más conmovedoras es styska se mi po tobe: «te añoro; ya no puedo soportar el dolor de tu ausencia». En español, «añoranza» proviene del verbo «añorar», que proviene a su vez del catalán enyorar, derivado del verbo latino ignorare (ignorar, no saber de algo). A la luz de esta etimología, la nostalgia se nos revela como el dolor de la ignorancia. Estás lejos, y no sé qué es de ti. Mi país queda lejos, y no sé qué ocurre en él. Algunas lenguas tienen alguna dificultad con la añoranza: los franceses sólo pueden expresarla mediante la palabra de origen griego (nostalgia) y no tienen verbo: pueden decir: je m’ennuie de toi (equivalente a «te echo de menos» o «en falta»), pero esta expresión es endeble, fría, en todo caso demasiado leve para un sentimiento tan grave. Los alemanes emplean pocas veces la palabra «nostalgia» en su forma griega y prefieren decir Sehnsucht: deseo de lo que está ausente; pero Sehnsucht puede aludir tanto a lo que fue como a lo que nunca ha sido (una nueva aventura), por lo que no implica necesariamente la idea de un nostos; para incluir en la Sehnsucht la obsesión del regreso, habría que añadir un complemento: Sehnsucht nach der Vergangenheit, nach der verlorenen Kindheit, o nach der resten Liebe (deseo del pasado, de la infancia perdida o del primer amor). […]
[…] Cuanto mayor es el tiempo que hemos dejado atrás, más irresistible es la voz que nos incita al regreso. Esta sentencia parece un lugar común, sin embargo es falsa. El ser humano envejece, el final se acerca, cada instante pasa a ser siempre más apreciado y ya no queda tiempo que perder con recuerdos. Hay que comprender la paradoja matemática de la nostalgia: ésta se manifiesta con más fuerza en la primera juventud, cuando el volumen de la vida pasada es todavía insignificante. […]
[…] Tampoco la memoria es comprensible sin un acercamiento matemático. El dato fundamental radica en la relación numérica entre el tiempo de la vida vivida y el tiempo de la vida almacenada en la memoria. Nunca hemos intentado calcular esta relación y, por otra parte, no disponemos de ningún medio técnico para hacerlo; no obstante, sin grandes riesgos de equivocarme, puedo suponer que la memoria no conserva sino una millonésima, una milmillonésima, o sea una parcela muy ínfima, de la vida vivida. Esto también forma parte de la esencia misma del hombre. Si alguien pudiera conservar en su memoria todo lo que ha vivido, si pudiera evocar cuando quisiera cualquier fragmento de su pasado, no tendría nada que ver con un ser humano: ni sus amores, ni sus amistades, ni sus odios, ni su facultad de perdonar o de vengarse se parecerían a los nuestros. […]

Morte, curiosa morte...

Quando meus ombros estão descobertos, sinto suas mãos percorrerem minhas costas. Queria um beijo selando uma paixão, um beijo na nuca, uma mão acariciando meu corpo. Me encantaria sentir seus dedos dissolvendo meus grossos e negros cabelos. É uma carência que sinto no final da noite, no momento de ir para a cama. Mas, por que essa carência me acomete assim nessa hora que me sinto tão sozinho? Na verdade, acho que transformo em carência o medo da solidão.É ruim ficar só. É ruim ouvir-se a si mesmo o tempo todo. Falar demais é uma fuga, estar o tempo todo com alguém é uma fuga. Por que fujo tanto da solidão? Às vezes, tenho vontade de morrer, anseio pela minha morte. Mas não é a ânsia das pessoas deprimidas e desiludidas, é pura curiosidade. No entanto, a morte é o grande momento da solidão. Morremos sozinhos. Então, de imediato, a mesma idéia de morte me apavora. Estar só é um medo que ainda terei de enfrentar, pois como morrer é inevitável, estar só também será. Então, por que passar a vida procurando alguém para compartilhar os meus objetivos? Por que devo mudar a vida de alguém? Por que alguém deve mudar a minha vida? Por que devo amar alguém e alguém me amar? Afinal, tudo acaba em solidão!O que será que há depois do morrer? Será que você estará lá? Será que a solidão é um estado passageiro?Sinto-me limitado em pensar a morte de um ponto de vista tão humano-carnalizado. Morrer diz respeito a uma outra lógica. Não haverá lá, nem cá, nem solidão, nem paixão.Bateu-me uma curiosidade!

Desespero da partida I

Eu não quero preparar as malas, arrumar a casa. Recolher a bagunça da noite anterior. Eu não vou viajar. Ninguém se prepara para a morte. Ninguém sabe do seu dia. Eu sei do meu. E não tenho tal serenidade para esperar sentado a hora do embarque.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Young

Reproduzo na íntegra uma poesia de Fernanda Young, retirada de seu livro: Dores do amor romântico.

Faço dessas palavras as minhas. Não saberia me exprimir de outro jeito, não agora.

Estou por um triz. De novo
parece, de fato, encenação.
Creio até que seja mentira
essa minha cara com esses
olhos caídos. Aprendi tal
olhar, lendo os poemas de
alguns, ou são os remédios.
Eu vinha crente que não mais
precisava disso. Disso: caneta,
papel, calmante e pijama.
Dancei muitas músicas e ri
de mim mesma. Aquela que
se repete. Eu. Eu mesma:
corpo e a cabeça cheia de
cabelos.
Meu cérebro está empapado,
do tamanho de uma barata.
Quando vou ao banheiro
e olho-me no espelho.
Quase acredito ser uma boa
atriz.
É tudo mentira!
um batom, um perfume e
vestidos me levariam ao
shopping. A um bar. A um beijo.
O problema é que quero muitas
coisas simples
então pareço exigente.
O problema é que sou tola e
carente,
mas não me deixo enganar,
se eu pudesse pedir um só pedido
seria: pára!
Pára esse carro em minha cabeça!
Quero descer,
estacionar,
bater num poste.
Não mais delirar,
nem sentir no corpo esse
seguir sem descanço,
atrás de sutilezas que não
podem ser descritas.