sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Discurso de formatura Lingüística (2004-2007)

Revendo e-mails antigos, encontrei entre eles o discurso de formatura escrito por minha amiga Denise. A turma em questão era a minha, a de Lingüística, na época em que "linguística" ainda tinha trema. Espero que resulte interessante essa saborosa mensagem.





Discurso de Formatura – Turma de Lingüística
18/01/2008

Denise Pozzani de Freitas Barbosa

Agradecimento

Boa noite à mesa, aos pais e colegas. Gostaria, primeiramente, de agradecer a meus companheiros de turma, por terem me escolhido para representá-los nesta cerimônia.




Quando, em 2004, iniciou-se esta turma do curso de Lingüística, não era possível imaginar como estaríamos hoje. Afinal, além se sermos estranhos uns aos outros àquela época, nosso curso não nos parecia nada convencional (fato, que, talvez, tenha sido o primeiro de muitos que nos uniram). É verdade também que éramos muito diferentes, pessoas de diferentes idades e lugares, um pouco ou nada experientes na vida acadêmica, experimentando os sabores de novidade que esta universidade nos oferecia de mão cheia.

As primeiras impressões dos colegas hoje parecem remotas; possivelmente, a maioria delas até tenha sido descartada da memória, substituída por tantos outros acontecimentos mais marcantes que nos transformaram neste grupo de amigos que somos hoje, sem implicâncias ou disputas, agradáveis, solidários, e muito bem humorados.

Esses quatros anos se passaram, e foram tantos textos para ler (alguns dos quais se assemelhavam a mensagens cifradas para nós), tantas aulas, trabalhos a entregar, tardes na arcádia ao redor de alguma discussão altamente relevante, aulas de línguas exóticas que alguns se sentiram desafiados a aprender, enfim, tantas atividades em comum (penosas, ou divertidas), que fazer parte desta turma tornou-se uma necessidade diária, mais do que uma parte da rotina.

Longe das obrigações ordinárias, como esquecer as inúmeras “piadinhas de lingüista”, ou aquela camiseta do Chomsky, carinhosamente planejada? Os almoços no IMECC ou no bandejão? (muitos embalados por palestras sobre a interessante mistura do guarani com o espanhol, uma língua chamada de “Jopará”).

Além disso, é forçoso lembrar como muitos de nós, longe ou perto de casa, pudemos sempre contar com os amigos. Afinal, quantas vezes precisamos de uma companhia, um favor, uma carona, um lugar para dormir em Campinas, ou mesmo um empréstimo de livro, quando éramos punidos pelas estranhas multas incrementais da biblioteca.

         E como não falar dos nossos queridos professores, especialmente aqueles que realmente fizeram com que nos sentíssemos especiais. Houve os que nos encantaram com seu conhecimento e dedicação extremosa às ciências da linguagem, os que desenvolveram nosso senso crítico, apesar da nossa teimosia, os que nos orientaram com dedicação e uma boa dose de paciência na iniciação científica, e, ainda, aqueles que somente com sua simplicidade e espontaneidade ganharam nossa admiração.

Durante esses quatro anos, também é visível como desenvolvemos preferências diferentes por áreas e teorias e criamos vínculos e admirações diversas... enfim, amadurecemos, como era de se esperar. Mas, como estreantes que somos, digamos que, até aqui, conseguimos pelo menos atenuar nossa ignorância.

Daqui para a frente, o que nos espera é um caminho individual. Chegado o fim, o que vamos fazer, o que seremos, se vamos ser “profissionais de destaque”, ainda não pensamos realmente sobre isso... Infelizmente, e digo isso especialmente aos pais, descobrir uma língua, um fonema ainda não registrado ou um sistema morfológico complexo não é como descobrir petróleo.

Deixemos, contudo, em suspense por um tempo esta reflexão, não pensemos sobre isso hoje, pois, no final, saberemos o que fazer se encararmos o fim deste curso também como o começo de outras possibilidades. Mas não nos esqueçamos como foi prazeroso pertencer a este grupo e a este instituto por um tempo.

Hoje a certeza, o conforto que esta turma pode manifestar a todos que aqui estão é que chegamos ao fim do curso, e por um motivo certo: estudamos muito (!), nos apaixonamos pela área, e certamente estamos imensamente orgulhosos por receber hoje o título de lingüistas, que somos.